segunda-feira, 10 de julho de 2017

41 - O fio da memória (idem) - Brasil (1991)


Direção: Eduardo Coutinho
Filmado originalmente em 16mm, realizado de 1988 (centenário da abolição) a 1991, no Estado do Rio, o filme procura condensar, em personagens e situações do presente, a experiência negra no Brasil, a partir de dois eixos. De um lado, as criações e memória, sobretudo na religião e na música, e, do outro, a realidade do racismo, responsável pela perda de identidade étnica e marginalização de boa parte dos cerca de 60 milhões de brasileiros de origem africana. O fio condutor do filme é o trabalhador de salina e artista semi-analfabeto, Gabriel Joaquim do Santos, que construiu a Casa da Flor, feita de restos de obras e fragmentos retirados do lixo, em São Pedro da Aldeia, no interior fluminense. Ligando temas e personagens, a vida de Gabriel, contada por ele mesmo, revela o esforço de um homem para deixar marcas de sua existência no mundo.


Em O fio da memória Coutinho utiliza um recurso que ele não apenas não costuma usar, mas que rejeita: a narração explicativa. Ao abordar o candomblé e a umbanda, o diretor opta pelo didatismo para tentar explicar os métodos e símbolos dessas religiões - com algumas bolas foras, diga-se de passagem. Para quem conhece a estética de Coutinho e sabe o quanto ele critica tal modelo de narrativa, vê esse recurso em um filme seu causa surpresa e estranhamento.

Mas isso não significa que o toque do "velho Coutinho" não seja percebido. Criar um ambiente propício para que os personagens sejam protagonistas de suas próprias falas é uma das maiores virtudes éticas e técnicas do diretor, o que resulta em personagens, falas e discursos únicos e originais. E isso tem em O fio da memória, que nos brinda com ótimas sequencias e retóricas.

A memória do povo negro fica mais forte com esse filme.



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